Conversamos com o criador da Telemetria BYB para entender como a tecnologia saiu da prancheta e chegou ao mercado
Se você é uma pessoa prática e criativa, certamente já passou pela situação de pensar: “Nossa, seria ótimo se alguém inventasse uma máquina que… (insira sua função revolucionária favorita aqui )”. Este foi o caso do engenheiro italiano Enrico Rodella, criador, fundador e CEO da BYB Telemetria, um sistema que nasceu de uma necessidade real dele: tirar o ajuste de suspensão da bicicleta da terra do achismo, criando um passo a passo científico para que o processo se tornasse uma realidade.
O sistema de telemetria para bicicletas desenvolvido a partir da ideia dele chegou ao Brasil há cerca de 2 anos, pelas mãos da Escola Park Tool. Desde então, diversos profissionais e amadores já tiveram experiências com a tecnologia – com resultados práticos sempre positivos, como pode ser visto neste vídeo.
Mas tirar essa ideia do papel não foi simples, exigindo muita dedicação e a ajuda da comunidade da bike. Afinal, foram as pessoas que apoiaram o projeto por meio de um financiamento coletivo, na plataforma Kickstarter, entre os anos de 2018 e 2019. Segundo ele, a jornada da ideia até o produto foi ao mesmo tempo empolgante e desafiadora.
“A ideia da BYB Telemetry nasceu de uma necessidade real vivida no campo. Como ciclista e engenheiro apaixonado por desempenho e tecnologia, percebi o quanto eram limitadas as ferramentas disponíveis para analisar e melhorar o ajuste da suspensão e o comportamento da bicicleta. Queria trazer para o mundo do ciclismo, especialmente o mountain bike, o tipo de dado e insight que vemos no automobilismo”, revelou Enrico.
Conforme explicou Enrico, o primeiro passo foi criar protótipos com sensores básicos e microcontroladores, testando diretamente nas trilhas, em um processo prático e interativo, com incontáveis pedais, falhas e aperfeiçoamentos.
“Com o tempo, desenvolvemos um sistema completo de aquisição de dados que combina hardware, software e um aplicativo, permitindo que ciclistas, equipes e engenheiros compreendam de fato como suas bikes se comportam em condições reais”, complementou.
Financiamento coletivo: ponto de virada para a Telemetria BYB
Muitas ideias que parecem ser excelentes na fase de projeto acabam não vingando no mercado real. Ou por não serem tão excelentes assim, ou simplesmente por não encontrarem os consumidores necessários para fazer o dinheiro girar. Até mesmo por isso, a campanha de crowdfunding que permitiu transformar a ideia de Enrico em um produto comercial foi um momento crucial.
“A campanha de crowdfunding foi um divisor de águas. Foi uma forma de validar nossa ideia e ver se a comunidade de MTB estava pronta para esse tipo de inovação. Para ser sincero, no começo ficamos nervosos — sempre é um risco colocar sua visão no mundo”, afirmou.
“Mas a resposta dos ciclistas foi incrível. Pilotos de várias partes do mundo nos apoiaram não só financeiramente, mas também emocionalmente. Isso nos deu muita energia. Claro que tiveram momentos de dúvida, principalmente nos dias mais calmos da campanha, mas cada mensagem de um apoiador, cada história compartilhada, nos lembrava que esse produto realmente fazia a diferença. Isso foi o que nos manteve firmes”, revelou Enrico.
Como resultado, a ideia do italiano arrecadou quase 35 mil Euros, superando a meta inicial de 25 mil. Porém, engana-se quem acredita que o projeto estacionou no tempo depois disso. A bem da verdade, a tecnologia não para de evoluir, seja com a apresentação de novos sensores, seja com a evolução do software de análise, que passa por atualizações com alta frequência.
Além disso, desde o início, a BYB nasceu com a proposta de estar presente no mercado global da bike. Com isso, Enrico preocupou-se em encontrar parceiros ao redor do mundo. Aqui no Brasil, o equipamento de telemetria é importado pela Corsa Bike Parts, enquanto o trabalho de profissionalizar analistas de telemetria é da Escola Park Tool, única instituição de ensino brasileira aprovada para ministrar os cursos de Analista de Telemetria e Analista de Telemetria Expert.
“O Brasil representa uma oportunidade empolgante para nós. A cena do ciclismo é apaixonada, está em crescimento e aberta à inovação. Acreditamos em trabalhar de perto com ciclistas, treinadores e distribuidores locais para adaptar a tecnologia às suas necessidades. Também se trata de compartilhar conhecimento e construir uma comunidade em torno do ciclismo orientado por dados”, analisou Enrico.
De olho no futuro – Com a evolução do mountain bike, a busca por vantagens competitivas deve se intensificar para todos os lados, exatamente como aconteceu no automobilismo. No esporte a motor, por exemplo, ajustes manuais de suspensão, sem a ajuda de sensores e analistas, simplesmente não existem mais, ao menos não se o objetivo for chegar no lugar mais alto do pódio. Por isso, segundo Enrico, a Telemetria BYB também faz parte do futuro do esporte com bicicletas.
“A aquisição de dados vai se tornar um padrão no ciclismo de alta performance, assim como já é no automobilismo. À medida em que as bikes ficam mais avançadas e os ciclistas buscam cada vantagem possível, os dados terão um papel fundamental no ajuste, no treinamento e até na segurança”, explicou Enrico.
“Estamos só começando. Nosso objetivo é continuar ultrapassando os limites do que é possível com dados no ciclismo. No lado dos produtos, estamos desenvolvendo sistemas de aquisição de dados mais leves, inteligentes e integrados, tanto para profissionais quanto para ciclistas do dia a dia. Também estamos expandindo nossa plataforma na nuvem para oferecer análises mais profundas, compartilhamento mais eficiente e feedbacks mais personalizados”, complementou.
Além disso, ele afirma que o objetivo daqui para frente é conquistar outros mercados além do downhill, como o do Enduro, o XC e o das e-Bikes, criando soluções que permitam que a tecnologia seja aplicada a um uso mais comum da bike, para não profissionais.
“Acreditamos que a aquisição de dados vai evoluir para algo mais acessível e intuitivo, ajudando não só os atletas de elite, mas também os amadores a tomarem decisões informadas sobre a bicicleta, a suspensão e o estilo de pedalada. No futuro, acredito que os dados não serão mais vistos como um extra, serão parte essencial de como pedalamos, ajustamos e evoluímos”, finalizou o engenheiro.
Certamente, popularizar esta ideia envolve formar profissionais capacitados para o trabalho, o que não só ajuda a movimentar o mercado, mas também pode ser uma excelente oportunidade para bike shops procurando por um serviço premium e diferenciado para ajudar na fidelização de seus clientes.
Para mais informações sobre o curso de telemetria, acesse o site da Escola Park Tool.