26 de julho de 2024
Gioia Bartali, neta de Gino, ao lado de Avner Shalev, presidente do Museu do Holocausto, depois de receber o certificado - Foto: Divulgação

Giro d’Italia presta homenagem a ciclista que salvou judeus italianos dos nazistas

Edição 2018 da prova italiana presta tributo a Gino Bartali, um dos maiores nomes do ciclismo de estrada de todos os tempos

Conhecido como “O Leão da Toscana”, por sua capacidade de superação e tenacidade, o ciclista italiano Gino Bartali foi uma dos grandes atletas do século XX e também um herói secreto da Segunda Guerra Mundial. 

No ano de 1943, no auge da guerra, quando as tropas nazistas de Hitler invadiram a Itália, resgataram o ditador Mussolini e o colocaram à frente de um governo fantoche de fato comandado pelos alemães, Gino Bartali já um dos maiores nomes do ciclismo de estrada. Acostumado a percorrer longas distâncias durante seu treinamentos, ninguém suspeitou que a celebridade italiana pudesse ser uma peça importante na engrenagem criada pela resistência para burlar os controles dos alemães, arriscando sua vida para salvar centenas de judeus ao transportar identidades falsas escondidas no quadro de sua bicicleta.

Profundamente católico e contrário ao regime fascista, o ciclista italiano foi convocado para a missão mais importante de sua vida pelo cardeal Elia Dalla Costa, amigo de sua família. Durante as longas horas em que pedalava por estradas vicinais, transportava documentos e dinheiro que salvaram da câmara de gás muitos de seus compatriotas de origem judaica.

Se em vida, Gino Bartali desfrutou do reconhecimento por suas conquistas esportivas, foi apenas em 2010, uma década depois de sua morte, que seus esforços para salvar a vida dos judeus italianos começaram a ser conhecidas. Uma onda de homenagens que culminou nesta quarta-feira (2), ao ser nomeado cidadão honorário de Israel, dois dias antes do início do Giro d’Italia, que neste ano terá início em Jerusalém.

Gino Bartali – Foto: Divulgação

Gino transportava em sua bike fotografias, passaportes e dinheiro, geralmente sob o selim ou no interior do quadro e os entregava a outra pessoa que, como ele, operava na clandestinidade. Dessa forma, a operação possibilitou a saída dos judeus da Itália, fornecendo-lhes novos documentos. Mas não seria essa tarefa arriscada, difícil de documentar devido ao sigilo com que a operação era realizada, que o levou em 2013 o ciclista ser reconhecido postumamente com o título de ‘Justo Entre as Nações‘ pelo Yad Vashem, o Museu do Holocausto Judeu em Jerusalém.

Após a morte de Bartali em 2000, dois jornalistas italianos conseguiram fazer com que se tornasse público o testemunho da família Goldenberg, uma das várias salvas pela operação. Durante a Guerra, vários de seus membros permaneceram escondidos em um convento, enquanto outros se abrigaram durante dez meses em um apartamento em Florença de propriedade do ciclista. Um gesto pelo qual recebeu a maior honraria concedida pela instituição hebraica aos não judeus que arriscaram suas vidas para salvá-los do Holocausto.

Quando o testemunho dos Goldenberg revelou as atividades secretas de Bartali, outros judeus como Giulia Baquis e Renzo Ventura confirmaram a história do ciclista que havia ajudado suas famílias a conseguir documentos falsos para fugir. A modéstia do campeão italiano durante sua vida – que venceu o Giro três vezes e o Tour de France outras duas – contribuiu para forjar sua lenda, porque ninguém sabe ao certo quantos judeus salvou com seus intermináveis dias pedalando ao longo da Toscana.

Pelo menos em 45 ocasiões ele percorreu os quase 200 quilômetros de distância entre Florença e Assis como estafeta para a resistência, sem que sequer sua família soubesse de suas atividades contra os nazistas. Isso foi reconhecido por sua neta, Gioia Bartali, na quarta-feira em Jerusalém, durante a homenagem que lhe foi prestada no Museu do Holocausto e na qual recebeu, em nome de seu avô, o certificado que reconhece o campeão italiano como Cidadão Honorário de Israel.

Durante o evento, realizado no Jardim dos Justos entre as Nações, vários ciclistas que disputarão o Giro deste ano homenagearam Bartali. Juntos, eles pedalaram no Monte da Recordação (Har Hazikaron), onde está localizada a instituição judaica criada com a finalidade de colocar um nome em cada uma das vítimas do Holocausto para que não caiam no esquecimento.

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