4 de novembro de 2024
Jaqueline Mourão - Foto: Divulgação / CIMTB

Atleta conta as dificuldades e superações de ter sido a 1º representante do MTB nas Olimpíadas

Jaqueline Mourão participou de Atenas 2004 e Pequim 2008. Foi a melhor no ranking mundial e revela: “Demorou digerir o resultado de Pequim”

Na condição de país-sede das Olimpíadas, o Brasil já tem pelo menos duas vagas garantidas no mountain bike, uma para o Masculino e outra para o Feminino.

Mas, há alguns anos o cenário era outro. Primeira e única mulher a representar a nação em Jogos Olímpicos – 2004 em Atenas e 2008 em Pequim, Jaqueline Mourão mantém até os dias de hoje o mérito de ser a brasileira mais bem posicionada no ranking da União Ciclística Internacional (UCI), com a 7ª colocação.

Atualmente, com 40 anos, Jaqueline é a única brasileira que participou das Olimpíadas de Verão e de Inverno e pretende encerrar a carreira Olímpica em 2018, nos Jogos de Inverno de PyeongChang, na Coreia do Sul.

No mountain bike, Jaqueline começou cedo. Com 15 anos, a atleta dava as primeiras pedaladas rumo à carreira esportiva que a consagraria na história do esporte no Brasil. Mas para chegar onde chegou, Jaqueline revelou que foi preciso ser mais que atleta. “O crescimento do MTB Cross Country é enorme, se comparado à minha época. Nós não tínhamos provas que pontuassem no ranking e a única solução para se classificar para os Jogos Olímpicos era competir fora. Muitas vezes, eu era minha empresária, manager, treinadora, massagista, agente de viagem e mecânica. Também tinha que buscar recursos para fazer as viagens, que muitas vezes foram por conta própria. O caminho era traçado assim, por mim mesma, pois era um novo caminho não antes percorrido”, afirmou.

Jaqueline Mourão, multiatleta Scott pedalando uma Big Ed - Foto: Murilo Rezende / Seppia
Foto: Murilo Rezende / Seppia

O caminho desconhecido foi sendo aberto e explorado. Jaqueline participou de várias etapas da Copa Internacional Levorin de Mountain Bike (CIMTB Levorin), onde veio a ser campeã em 2006 e 2008. “Acredito que a CIMTB Levorin contribuiu com uma grande parcela deste sucesso que estamos vivendo hoje e fico feliz em lembrar todos estes acontecimentos. A evolução da CIMTB Levorin, hoje considerada como uma prova referência na América Latina e uma das poucas no mundo com o status Stage Race Hors Class, reflete exatamente o crescimento do Mountain Bike XC brasileiro”, disse.

Segundo Rogério Bernardes, organizador da CIMTB, Jaqueline Mourão faz parte da história da prova e do MTB brasileiro. “É muito importante os mais jovens terem conhecimento dos caminhos percorridos por ela e por outros atletas, para que deem valor a evolução, em todos os aspectos, do ciclismo. O caminho é longo mas nada é impossível quando existe um sonho vivo dentro de nós”, disse.

Jaqueline destaca que esta evolução também está relacionada com a conquista do Brasil em sediar os Jogos 2016. “O incentivo do governo ao esporte cresceu muito. Existem também mais empresas e pessoas interessadas no mercado de bike. O atleta tem mais estrutura, pode contar com uma equipe multidisciplinar e apoio nas viagens por parte da Confederação Brasileira de Ciclismo, Comitê Olímpico Brasileiro e Ministério do Esporte. Destaco também a quantidade de programas esportivos dentro do Ministério do Esporte que engloba desde as categorias de base até o alto rendimento e as construções de sedes esportivas em vários locais do Brasil. O legado Olímpico Rio 2016 já é uma realidade hoje”, ressaltou.

 

Dentro desta visão, estão as vivencias de Jaqueline. A atleta conta que nos dois Jogos Olímpicos de Verão que participou teve problemas mecânicos. “Não tive muita sorte nos meus Jogos Olímpicos de Verão – duas Olimpíadas e dois pneus furados. Em Atenas 2004, furei, mas consegui reparar rápido e terminar na 18º colocação, resultado que continua sendo a melhor colocação brasileira em Olimpíadas e espero que seja batido no Rio 2016. Já em Pequin 2008, eu estava muito forte e bem preparada, mas o pneu furou também e tive que correr aproximadamente 1,5km para trocar minha roda, o que me tirou muito tempo, e acabei terminando na 19º colocação. Mas o que mais me motivou a não parar foi isso: a luta para chegar até uma Olimpíada é muito grande e demanda muita dedicação e amor ao esporte”, disse.

A atleta revelou que entre as duas experiências que teve em Jogos Olímpicos de Verão, 2008 foi algo difícil de superar. “O meu maior desafio foi comigo mesma, sempre me cobrei muito e por isso acredito que cheguei tão longe, mas ao mesmo tempo demorou muito para digerir meu resultado em Pequim 2008, pois tinha grandes ambições. 2008 foi um ano no qual me destaquei bastante em competições prévias e sentia que tinha feito tudo ao meu alcance para dar o meu melhor, mas falhas mecânicas acontecem”, afirmou.

Com tanta experiência, Jaqueline deixa uma dica para aqueles que estão trilhando o mesmo caminho que ela. “Faça seu melhor diante das circunstâncias que te desafiam e saia com a certeza que fez o seu melhor naquele momento. Viva o Olimpismo em sua plenitude e saiba que carrega toda a nação brasileira ali naquele momento. Independente das dificuldades nunca desista, pois vai valer a pena. Uma participação Olímpica é muito especial e algo que vai lhe marcar por toda a vida”, finalizou.

Legado – Nas trilhas do MTB brasileiro, as atletas Raiza Goulão e Isabela Lacerda estão disputando quem será a representante brasileira da modalidade na Rio 2016. Raiza teve um bom resultado no Pan-Americano, na Catamarca, Argentina, em abril. Ela ficou com a prata, depois de ter ficado em 10º em 2015. “Fiquei muito feliz em ver o resultado de toda minha dedicação juntamente com minha equipe técnica. O Pan foi uma prova que estamos no caminho certo e que podemos almejar grandes objetivos a longo prazo. Sair de uma 10º colocação em 2015 para medalha de prata em 2016 foi incrível para mim, só me motiva mais e mais para dar continuidade em minha dedicação. E, conseguir abrir uma ampla vantagem na busca pela vaga olímpica me encoraja mais ainda em conseguir ir para as Olimpíadas e buscar um ótimo desempenho”, afirmou.

Isabella Lacerda e Raiza Goulão não deixam de usar o pingente feito pelo pai de Jaqueline Mourão para as atletas do MTBteen - Foto: Aretha Martins / iG
Isabella Lacerda e Raiza Goulão não deixam de usar o pingente feito pelo pai de Jaqueline Mourão para as atletas do MTBteen – Foto: Aretha Martins / iG

Isabella Lacerda não pode comparecer no Pan-Americano, pois foi contaminada pelo vírus da dengue. Segundo ela, agora a luta será dobrada. “Isso me prejudicou nessa briga. Mas a somatória é até dia 25 de maio e vou lutar até o final. Estou competindo muitas provas fora do país e isso ajuda muito na evolução física e técnica. Em São João del-Rei, a competição irá contribuir tanto para o ranking individual como o ranking das nações”, finalizou.

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