Encontro promovido pela Shimano abordou questões como a responsabilidade do setor de Bicicletas e a conscientização pública. Ação faz parte do Pedal das Capivaras, passeio ciclístico programado para este domingo
O escritório da Shimano em São Paulo foi sede, nesta quarta-feira (9), de debate sobre a despoluição do Rio Pinheiros, em São Paulo (SP). Profissionais do setor de bicicletas, membros de órgãos governamentais e representantes da mídia especializada e de ONGs engajadas no tema discutiram por aproximadamente duas horas os problemas e as possíveis soluções para a revitalização de um dos rios mais importantes da capital paulista.“A Shimano tem a filosofia de não pensar somente na receita gerada pela venda do componente ou do acessório, mas pensar em fomentar ações que melhorem a qualidade de vida de determinada região. Seria bom para todos se o Pinheiros fosse despoluído: teríamos comércio em volta do rio e mais gente fazendo atividades ao ar livre”, avaliou Rogério Tancredi, gerente de marketing da Shimano.
“A Shimano tem a filosofia de não pensar somente na receita gerada pela venda do componente ou do acessório, mas pensar em fomentar ações que melhorem a qualidade de vida de determinada região”
O papel das empresas no processo de conscientização e mobilização da sociedade e do poder público também foi ressaltado por Eduardo Rocha, diretor comercial da Caloi.
“A indústria também tem a missão de educar as pessoas. Há dois meses, no Dia Mundial Sem Carro, a Caloi levou todos os seus funcionários para pedalar. Foi tão legal que faremos isso novamente nesta semana. O Rio Pinheiros, especificamente, é sensacional para pedalar, muito atraente para as pessoas. E aquela área ainda pode ser bem mais aproveitada”, afirmou Eduardo.
O mediador do debate, João Magalhães, do departamento de comunicação da Shimano, destacou o engajamento dos convidados. “A iniciativa não é só da Shimano. Por sorte, outras pessoas abraçaram a causa. Este pode ser o início de um duradouro grupo de discussão”.
Poluição do rio – A questão mais debatida durante o encontro foi a poluição do Pinheiros. Estiveram em pauta o descarte irregular de lixo, a falta de fiscalização em relação ao saneamento básico de indústria, comércio e moradias e a necessidade de conscientização da população para a importância do rio.
“A fiscalização do esgoto é mais complexa do que imaginamos, é como procurar agulha num palheiro. Nosso maior problema são os materiais de construção. O descarte de garrafa PET, em contrapartida, diminuiu muito por causa do aumento do preço pago na reciclagem”, disse Eduardo Rocha, da EMAE (Empresa Metropolitana de Águas e Energia), para quem a atuação da Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo) é fundamental neste processo. “A despoluição vem sendo feita, mas é lenta. Comércio e Indústria precisam tratar seu esgoto antes de despejá-lo nos rios”.
Um dos principais objetivos da ONG Cidade Azul, responsável por mapear todos os rios de São Paulo – até mesmo os enterrados pela urbanização -, é alertar a população.
“Em qualquer lugar da capital onde você esteja, há um rio. A partir deste projeto, todo mundo começa a ter a curiosidade de saber de qual rio é dependente, ou qual rio está sujando. Usamos materiais de divulgação para transmitir uma mensagem: sua sujeira está indo para o rio”, explicou Lecuk Ishida. “O rio nasce limpo, somos nós que o sujamos. Não temos de limpá-lo, mas parar de sujá-lo”, completou Carolina Ferrés, também da ONG Cidade Azul.
Ocupação dos rios – De um modo geral, os convidados concordaram que o primeiro passo para pressionar as autoridades a agir em prol da despoluição do Rio Pinheiros é ocupar suas margens, a partir de iniciativas como intervenções artísticas e estabelecimento de espaços públicos para lazer.
“Há atualmente um movimento mundial de ocupação dos rios urbanos. Aqui em São Paulo as pessoas precisam enxergar o rio como propriedade delas. Se a cidade é nossa, temos de preservá-la. A crise hídrica tem um papel importante nesse sentido, pois as pessoas começaram a entender de onde vem a água e a olhar para os rios com mais consciência”, disse Juliana Cibim, do Instituto Democracia e Sustentabilidade.
“Aqui em São Paulo as pessoas precisam enxergar o rio como propriedade delas. Se a cidade é nossa, temos de preservá-la”
A editora da revista Sport Life, Vanessa de Sá, citou iniciativas adotadas em outros países. “Em 2002, a França iniciou um pequeno projeto para transformar trechos do Rio Sena em praias, e isso depois virou um grande projeto. A revitalização do Pinheiros precisa vir acompanhada de um plano paisagístico, mesmo ele ainda estando poluído”.
Os convidados citaram o Projeto Pomar como modelo para a revitalização das margens do rio. Criado em 1999 pela Secretaria do Meio Ambiente para “devolver vida às margens do rio e promover a educação ambiental”, recebeu inicialmente o apoio de empresas públicas e privadas, mas atualmente, devido à falta de patrocínio existe apenas uma manutenção básica do projeto, sem expansão.
Melhorias para a ciclovia – A Ciclovia do Rio Pinheiros, inaugurada em fevereiro de 2010 e administrada pela CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos), foi fator catalisador na volta da população para as margens do rio. Como essa era a base do tema do debate, os participantes também apontaram alguns problemas, como a falta de segurança e dificuldades de acessibilidade.
“É preciso estender o horário de uso, aumentar os acessos e liberar o trecho interditado devido às obras do monotrilho, hoje paralisadas. Em relação aos assaltos no lado oeste do rio, quando questionadas sobre isso, todas as autoridades tiram o corpo da reta: governo do estado, CPTM, polícia militar. Hoje não temos, por exemplo, um trabalho social para garantir oportunidades às comunidades carentes daquela região e promover a integração delas com a ciclovia”, afirmou a cicloativista Renata Falzoni.
“É preciso aumentar a quantidade de acessos não só a partir das estações de trem, mas também pelas pontes que existem, por onde chegam boa parte dos ciclistas interessados em utilizar a ciclovia. Isso depende da vontade da prefeitura também”, ressaltou o cicloativista Willian Cruz.
Representada no encontro por Maria Luisa Parra (supervisora geral de estações) e Affonso Dantas (analista de comunicação), a CPTM ouviu as sugestões e destacou o crescimento no número de usuários desde o ano de inauguração: de 1620 ciclistas por mês em 2010, a ciclovia do Rio Pinheiros passou a receber 43 mil mensalmente este ano.
“A ciclovia não fazia parte da nossa operação, foi uma missão dada para a gente. A interação com o ciclista passou a ser mais significativa há apenas dois meses, a partir da liberação da entrada de bicicletas nos trens em todos os dias, e não mais somente nos finais de semana. É natural que nossa adequação se dê com um certo tempo e alguma prática”, pontuou Afonso.
Iniciativa inédita – O debate é uma iniciativa inédita e tem como objetivos não apenas alimentar a discussão e semear sugestões, mas também criar um grupo envolvendo organismos e profissionais que têm legítimo interesse em divulgar e trabalhar pela causa da despoluição do Rio Pinheiros. Nesse contexto, a Shimano se coloca como incentivadora do movimento e elo de ligação entre estas partes, por enxergar na bicicleta e no ciclista os elementos de uma transformação gradual e necessária para a melhoria da qualidade de vida de todos e das gerações futuras.
Pedal das Capivaras – Em parceria com Caloi, GT, Cannondale e Ambiens, a Shimano promove neste domingo (13) o Pedal das Capivaras. Serão 50 convidados percorrendo cerca de 20 quilômetros na ciclovia do Rio Pinheiros, com saída às 9h do Bike Park Cancioneiro. Lançada pela Shimano em 2011, a iniciativa é um movimento do mercado de bicicletas em prol da sustentabilidade e da melhoria do espaço público, questões inerentes à utilização da bicicleta como alternativa de mobilidade urbana.