17 de maio de 2024
Detalhe da Trek Remedy 29er de Justin Leov, equipada com o amortecedor Fox Float DHX 2 - Foto: Josh Patterson / Immediate Media

Popularização do Enduro resulta em ‘renascimento’ dos amortecedores a mola

Praticamente soberanos nas balanças traseiras das bicicletas full suspension, os amortecedores a ar são hoje utilizados na maiorias das modalidades do Mountain Bike.

Há até pouco tempo atrás, amortecedores a mola eram relegados a utilização apenas nas modalidades de Freeride e Downhill, onde o fator peso pouco influencia na decisão final da compra. Entretanto, com as atuais competições de Enduro exigindo cada vez das bicicletas e dos atletas, muitos fabricantes de amortecedores começam a produzir modelos a mola de baixo peso voltados para utilização em bicicletas de All Mountain / Enduro.

Amortecedor Öhlins TTX22M, componente de série das Specialized Demo e Enduro EVO
Amortecedor Öhlins TTX22M, componente de série das Specialized Demo e Enduro EVO

Ar x Mola – Tanto a mola quanto o ar comprimido são meios efetivos de amortecimento, embora os modelos a ar sejam, via de regra, muito mais leves que os modelos com molas metálicas, já que nenhum metal conhecido é mais leve que o ar.

Por outro lado, as molas proporcionam um sistema de amortecimento mais sensível, principalmente em descidas de longa duração e alta velocidade.

A explicação é simples: para que possa funcionar corretamente, um sistema a ar pressurizado utiliza êmbolos de borracha ou silicone conhecidos por o-rings, cuja função é impedir que o ar sobre pressão escape. Se por um lado os o-rings cumprem com eficácia seu objetivo, por outro lado geram uma resistência entre as partes móveis do amortecedor.

Não bastasse isso, os retentores e selos que servem para manter a água, sujeira e outras impurezas fora do corpo do amortecedor a ar acabam por diminuir ainda mais sua sensibilidade em relação aos que utilizam mola, que não sofrem este tipo de interferência.

Fox DHX2
Fox DHX2

Outra característica dos amortecedores a mola é a sua linearidade, ou seja, sua capacidade de manter o mesmo nível de amortecimento durante todo o curso da suspensão. Isto não ocorre com os modelos pneumáticos, que ficam mais duros no fim do curso, já que quanto mais comprimido o ar, mais resistência oferece.

“Amortecedores a mola costumam ter uma leitura de terreno mais eficiente que os a ar”, diz o piloto de provas da Specialized e atual líder do Brasil Enduro Series, Thiago Boaretto. “Apesar de serem mais pesados que os modelos a ar comprimido, os amortecedores a mola possuem menor torção durante a pedalada”, disse.

Segundo Boaretto, via de regra atletas oriundos do Freeride e do DH, como o francês Cedric Gracia e como ele próprio, preferem, devido as suas características de pilotagem, os amortecedores a mola em suas bicicletas de Enduro. “Já quem migra do XC para o Enduro costuma dar preferência por bicicletas mais leves, com amortecedores a ar”, completa Thiago, que pretende testar em sua Specialized Enduro o amortecedor Öhlins TTX22M durante a Montenbaik Enduro Latam Series 2015.

Oriundo do DH e do Freeride, o francês Cedric Gracia substituiu o amortecedor a ar Rock Shox Monarch Plus de sua Santa Cruz Nomad pelo modelo DVO Jade, a mola
Oriundo do DH e do Freeride, o francês Cedric Gracia substituiu o amortecedor a ar Rock Shox Monarch Plus de sua Santa Cruz Nomad pelo modelo DVO Jade, a mola

Outros atletas de Enduro do circuito internacional tem optado pela utilização dos amortecedores a mola em suas bicicletas, como é o caso do piloto australiano da Giant Factory Off-Road, Josh Carlson, no Enduro World Series (EWS) 2015 tem sido visto utilizando um amortecedor a mola RockShox Vivid RC2 em sua Giant Reign Advanced 27.5″.

RockShox Vivid RC2
RockShox Vivid RC2

“Em cada etapa da EWS eu começo com a minha bicicleta equipada com o amortecedor a mola. Dependendo da quantidade de subidas eu opto ou não pela troca por um modelo a ar”, diz Carson.

“A decisão sobre qual modelo utilizarei irá depender de fatores como o quanto eu irei ter que pedalar, proporção de subidas x descidas e o quanto acidentado será o percurso. Caso o percurso seja menos técnico ou com muitas subidas, troco o amortecedor a mola pelo modelo RockShox Monarch Plus DebonAir (a ar). Na maioria das vezes, entretanto, eu opto pelas molas”.

A Giant Reign de Josh Carlson, equipada com o amortecedor RockShox Vivid RC2 - Foto: SRAM
A Giant Reign de Josh Carlson, equipada com o amortecedor RockShox Vivid RC2 – Foto: SRAM

“O único ponto negativo dos amortecedores a mola é o seu peso final. entretanto, com o advento das modernas bicicletas de Enduro, com amortecedores com 150mm ou mais de curso, muitos ciclistas acabam por sacrificar a questão do peso em prol de um aumento significativo na performance e consistência do amortecedor a mola” diz o presidente da Push Industries, Darren Murphy.

Push Elevensix
Push Elevensix

Compatibilidade

Evidentemente, o que é bom para os profissionais nem sempre é interessante para o usuário comum. Antes de realizar qualquer mudança radical, é bom lembrar que o ajuste correto do amortecedor a ar costuma resultar em mudanças significativas no comportamento da bicicleta.

Dependendo do tipo de terreno e estilo de pedalada, é possível deixar o amortecedor a ar com um comportamento um pouco mais linear, através dos ajustes de SAG, pressão do ar, retorno e pré-carga.

Antes de simplesmente trocar o amortecedor, é muito importante verificar a compatibilidade do quadro, já que nem todo design de suspensão permite a utilização de modelos a mola.

DVO Jade
DVO Jade

Um fator crucial para determinar a compatibilidade de um quadro com amortecedores a mola é a chamada curva de amortecimento que, dependendo do design da suspensão pode ser progressiva, decrescente ou linear.

Em uma curva progressiva, o amortecedor torna-se mais firme a medida em que se aproxima do fim de seu curso. Ao contrário, uma suspensão com curva decrescente fica mais macia na medida em que se aproxima do fim de seu curso. Já uma bicicleta cuja curva de amortecimento é linear mantém-se constante ao longo do curso do amortecedor.

O que determina a curva de amortecimento é o design da suspensão. Bicicletas que possuem como característica curvas de amortecimento decrescente ou neutra são geralmente construídas para serem utilizadas com amortecedores pneumáticos, já que o ar comprimido em seu interior tende a oferecer maior resistência no fim de seu curso. A utilização de suspensões com curva decrescente ou neutra minimiza este efeito.

Cane Creek DB Coil
Cane Creek DB Coil

Neste caso, a utilização de amortecedores a mola não é recomendada, já que a bicicleta corre o risco de atingir o fim do curso de sua suspensão muito facilmente, podendo ocasionar perda de controle e danos ao quadro e ao amortecedor.

“Bicicletas com curva de amortecimento progressivo são as melhores para uso com amortecedores a mola. As lineares também funcionam bem, embora uma pilotagem mais agressiva possa fazer com que o amortecedor chegue ao fim do curso com maior frequência, principalmente se o ajuste de SAG estiver correto”, explica Brandon Blakely, engenheiro e designer de amortecedores da Cane Creek.

“Ajuste e esqueça”

Se você busca uma pilotagem mais agressiva, que se beneficie de um amortecedor que proporcione uma leitura de terreno mais eficiente, os modelos a mola são altamente indicados, desde que preencham os requisitos de compatibilidade acima.

Outra razão para utilizar os modelos a mola, além das enumeradas neste artigo é a sua facilidade de uso, já que uma vez instalado e configurado, não há maior necessidade de novos ajustes.

“Amortecedores a ar necessitam ter sua pressão conferida com regularidade. Já os modelos a mola são do tipo ‘ajute e esqueça’, sendo via de regra mais amigáveis que os modelos pneumáticos”, diz Darren Murphy.

Colaborou nesta edição: Thiago Boaretto

error: Textos, fotos, artes e vídeos do site MTB Brasília estão protegidos pela legislação brasileira sobre direito autoral. Não reproduza o conteúdo do jornal em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização