26 de julho de 2024

A estranha ‘doença’ do século XIX que impedia as mulheres de pedalar

Lábios deformados, olheiras, expressão de cansaço, mandíbula rígida e olhos esbugalhados. Conheça mais sobre os sintomas desta estranha doença diagnosticada no século 19 que estranhamente só atingia as mulheres que pedalavam

No fim do século 19, a bicicleta tornou-se um importante instrumento de independência e liberdade para as mulheres. Com ela, muitas mulheres puderam sair de suas casas por seus próprios meios.

Na medida em que sua utilização ia difundindo-se entre o público feminino, a necessidade por um novo tipo de vestuário mais prático e compatível com o novo meio de transporte trouxe significativas mudanças na sociedade, que passou a ver os primeiros sinais de independência e feminismo.

A reação de setores machistas da sociedade não tardou a reagir. Como desestímulo ao uso da bicicleta pelas mulheres, uma nova ‘doença’ foi diagnosticada por alguns médicos da época, que estranhamente só atingia mulheres que pedalavam, fazendo com que elas se sentissem com receio de subir na bike novamente. A tal condição foi nomeada com algo como o ‘rosto de bicicleta’.

Segundo os médicos da época, o excesso de força ao pedalar e a posição vertical em duas rodas, aliadas ao esforço inconsciente para manter o equilíbrio, poderiam produzir uma expressão fatigada e exausta nas mulheres: o tal ‘rosto de bicicleta’. Estranhamente, esta condição era alertada apenas em relação ao público feminino e não aos homens.

Doença da Bicicleta

A descrição desta ‘moléstia’ foi documentada pela primeira vez no periódico médico Literary Digest, em 1895. Os especialistas da época relataram que a condição deixava as mulheres coradas, mas às vezes pálidas, com os lábios ligeiramente deformados, olheiras e a expressão de cansaço. A condição deixaria ainda as mulheres com a mandíbula rígida e apertada e olhos esbugalhados.

Os riscos da Doença da Bicicleta foram destacados no periódico médico National Review em 1897, quando o médico britânico A. Shadwell advertiu sobre os perigos de andar de bicicleta, especialmente para as mulheres, descrevendo o ciclismo como “uma mania de moda tem sido experimentado por pessoas que não se adequam a exercê-lo”.

Muitos médicos da época asseguravam que a condição poderia inclusive tornar-se permanente, enquanto outros sustentavam que se a pessoa passasse um tempo longe da bicicleta os sintomas da doença diminuiriam.

Talvez na época isso tenha aterrorizado muitas mulheres, mas obviamente, a doença da ‘Cara de Bicicleta’ não era algo real, o que nos leva à questão: porque os médicos estavam tão preocupados com isso? Pressão dos maridos, dos pais e de toda uma sociedade?

Em 1890, na Europa e na América do Norte, as bicicletas passaram a ser vistas por muitos como um instrumento do feminismo. O veículo dava mulheres maior mobilidade, além de uma redefinição da feminilidade, de atitude e até da moda. Embora para os homens a bicicleta possa ter sido apenas um novo ‘brinquedo’, para elas a bicicleta abriu todo um novo mundo de novas perspectivas.

Doença da Bicicleta

Como não poderia deixar de ser, a posição machista da sociedade não foi positiva, resultando na tentativa de dissuadir as mulheres, ao inventar que andar de bicicleta não fazia bem. Eles diziam que a prática era desgastante e inadequada para elas.

Os médicos afirmavam ainda que o uso do veículo não só causava a doença do “rosto de bicicleta” como também gerava cansaço, insônia, palpitações, dores de cabeça e depressão.

Mesmo quando em 1897, a médica Sarah Stevenson Hackett, de Chicago, afirmou que o ciclismo não era prejudicial e que na verdade, melhorava a saúde, o mito ainda perdurou por muitos anos, antes que a moderna medicina provasse justamente o contrário: bicicleta só faz bem a todos!

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