2 de dezembro de 2024
Gustavo, Maria Inácia e Pedro: da faculdade ao shopping, tudo de bike

Você já pensou em trocar seu carro por uma bike?

Exemplos de determinação provam que é possível usar a bike em qualquer deslocamento na cidade e se falta coragem, voluntários dão o ‘empurrão’ inicial

Gustavo, Maria Inácia e Pedro: da faculdade ao shopping, tudo de bike
Gustavo, Maria Inácia e Pedro: da faculdade ao shopping, tudo de bike

Em uma cidade onde a velocidade média de um veículo motorizado é de apenas 6 km/h em horários de pico na região central, pedalar é a solução para muita gente escapar do estresse dos congestionamentos intermináveis. Belo Horizonte é assim. Para se ter uma ideia de que a situação dos motoristas só piora ano a ano, em 2012 foram emplacados 110 mil veículos enquanto que, no mesmo período, pouco mais de 22 mil bebês nasceram na cidade.

Não é estranho ver as bikes se proliferando pelas ruas e avenidas de Belo Horizonte. Mesmo em locais onde não há ciclovia, é possível ver pessoas usando a bicicleta como um meio para seus deslocamentos diários.

O empresário Pedro Trindade é um exemplo de que a bike pode tranquilamente substituir o carro. Aos 71 anos, ele estuda Direito na PUC-MG, para onde vai todos os dias de bicicleta. “Gasto apenas 10 minutos, mas seu eu fosse de carro, gastaria pelo menos 20 minutos e no mínimo meia hora se eu optasse em ir de ônibus”, disse o ciclista, que já pedala há 20 anos. A bicicleta é usada para qualquer deslocamento de Pedro, seja para o banco, farmácia, padaria ou shopping. Se o estabelecimento tem um bicicletário, ajuda bastante, mas se não tiver, ele sempre dá um jeito.

A prova de que o carro ficou em segundo plano para Pedro está no hodômetro de sua Ford Ranger 2007, que marca pouco mais de cinco mil quilômetros rodados. A picape só deixa a garagem do prédio onde ele mora nos fins de semana, mesmo assim é para levar Pedro e um grupo de amigos até o ponto de apoio de alguma trilha que eles fazem de bike na Grande BH.

Pedro é proprietário de uma loja de bicicletas e coordenador da Câmara Duas Rodas da CDL e diz que sente o aumento nas vendas de bicicletas, mas o custo ainda é maior do que em outros países onde a bike já é usada por boa parte da população como meio de transporte. “Bicicleta tem mais imposto do que carro, uma bike de US$ 500, por exemplo, chega aqui no Brasil custando US$ 1,2 mil”, explicou. Porém, se essa for a desculpa para não pedalar, Pedro adianta que há ótimas opções no mercado de até R$ 1 mil. Na Europa, as vendas de bicicletas já superaram a de carros, sinal de que o transporte sustentável já é uma realidade acessível à população.

Dona Alfa se diverte durante sua primeira aula de 'Bike Escola'
Dona Alfa se diverte durante sua primeira aula de ‘Bike Escola’

Bike Escola – De volta a BH, a bike já passa a ser a opção até mesmo de quem não sabe andar de bicicleta, graças ao projeto Escola Bike Anjo, que ensina as pessoas a pedalarem, realizando um antigo sonho de muita gente, como o da psicóloga Alfa Duarte, de 61 anos. Sem andar de bicicleta há mais de 40 anos, há duas semanas ela entrou em uma loja para comprar uma bike para a neta, que também não tinha nenhuma intimidade com a magrela e o vendedor orientou as duas a procurarem o Bike Anjo. Acompanhamos a primeira aula de dona Alfa, que além da neta, de 11 anos, também trouxe a tia, a aposentada Alda Duarte, de 64 anos.

Em 30 minutos, as três já estavam se arriscando nas primeiras pedaladas sob orientação de instrutores voluntários. “Estou muito feliz e o próximo passo é voltar na loja para comprar a minha bicicleta e sair pedalando por aí”, disse a sorridente Alfa.

Nesse mesmo dia, fui surpreendido pela aula da auditora Angelita Marília, de 43 anos, abordada por este repórter enquanto pedalava feliz da vida por uma praça da região Centro-Sul de BH. Perguntei há quantas semanas ela frequenta a ‘Bike Escola’ e ela me responde: “há menos de 30 minutos”. Mas você já sabia pedalar, pergunto. “Apenas tentei andar quando eu tinha 15 anos, depois nunca mais passei perto de uma bicicleta”, respondeu. Ela ganhou tanta confiança na primeira aula, que prometeu voltar em pelo menos mais três e assim poder sair de casa pedalando. “É uma sensação indescritível, foi tudo bem tranquilo e estou muito feliz”, completou a aprendiz.

Alguns ex-alunos da Bike Anjo voltaram como voluntários, como a arquiteta Amanda Corradi. O trabalho de conclusão de curso na faculdade foi sobre as ciclovias, mas ela não sabia andar de bike e procurou a escola para aprender em agosto do ano passado. “Precisei de apenas três aulas para ganhar confiança para andar nas ruas e hoje estou aqui, do outro lado, ajudando outras pessoas”, disse.

Alunas e instrutores voluntários da Escola Bike Anjo
Alunas e instrutores voluntários da Escola Bike Anjo

A ideia de ensinar as pessoas a andarem de bicicleta sem cobrar nada por isso começou em 2010 em São Paulo e em fevereiro de 2012 veio para Belo Horizonte e contava com apenas três voluntários. Hoje são 20 voluntários e 25 alunos atendidos em cada aula (sempre no último domingo de cada mês). “O que me motiva em participar do Bike Anjo é saber que mais pessoas poderão estar nas ruas da cidade usando a bicicleta. E, mesmo que as pessoas não optem pela bicicleta como veículo, ao participar de alguma das ações do Bike Anjo, elas terão outra visão sobre as vidas que estão nas bicicletas espalhadas pela cidade. O Bike Anjo faz com que as pessoas compreendam que em cima de cada bicicleta há vidas, histórias, sonhos, sentimentos, pessoas. Ele ajuda a difundir o respeito ao ciclista”, disse Guilherme Tampieri, um dos voluntários da escola. No total, mais de 500 pessoas já aprenderam a pedalar com a Escola Bike Anjo BH.

Assim, a bicicleta já é encarada como um eficiente meio de transporte e não mais apenas como um brinquedo.

Fonte: Vrum

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