14 de dezembro de 2024
Tom Justice
Tom Justice, o ciclista que desistiu das Olimpíadas para roubar bancos - Foto: Arquivo pessoal

A incrível história do ciclista que desistiu das Olimpíadas para roubar bancos com sua bike

Tom Justice roubou um banco pela primeira vez em 23 de outubro de 1998, fugindo em sua bicicleta de estrada com a habilidade de um atleta olímpico

Um ciclista ávido pelo esporte, que abriu mão de uma promissora carreira como atleta para dedicar-se ao roubo de bancos utilizando um curioso veículo de fuga: sua própria bicicleta!

Desde criança, Tom Justice foi um ciclista ávido, tendo se encantado pelo esporte aos 13 anos, quando viu pela primeira ciclistas treinando no velódromo em Libertyville, bairro onde morava, na cidade de Chicago, Estados Unidos. A partir desse momento, Tom se dedicou ao ciclismo e ficou bom o suficiente em nível de ser incluído na equipe olímpica de atletismo de seu país.

Tom Justice
Tom desistiu de treinar para as Olímpiadas depois da faculdade – Foto: Arquivo pessoal

Sua carreira esportiva parecia promissora, mas logo após se formar na faculdade, começou a achar que o processo de treinar para se tornar um atleta olímpico era muito trabalhoso. Tom desistiu e voltou para casa em Chicago.

Obcecado pelo filme Reality Bites (Caindo na Real no Brasil), de 1994. Tom acabou cativado pelo personagem Troy Dyer (vivido pelo ator Ethan Hawke) que, desiludido com a sociedade, nunca para em um emprego. “Assisti o repetidamente e acho que infelizmente, me fez internalizar uma imagem”, diz Tom.

Assim como o personagem do filme, Tom acreditava que a vida não tinha saído do jeito que esperava. Ao mesmo tempo em que Tom ansiava por emoção e sucesso, acabou por rejeitar a abordagem lenta e constante de trabalhar em direção a um objetivo. Em vez disso, procurou o que, na época, pareceu um ‘caminho fácil’. Inspirado pelo drama do filme policial Heat (Fogo contra Fogo, 1996), Tom acabou por transformar uma fantasia de cinema em realidade no crime.

Primeiro assalto a banco

Em outubro de 1998, Tom roubou um banco pela primeira vez, fugindo em sua bicicleta de estrada com a habilidade de um atleta olímpico.

Empolgado com o resultado, Tom praticou outros assaltos com o mesmo modus operandi, sempre desarmado e portando um cartão que apresentava ao caixa, escrito:”Isso é um assalto. Coloque todo o dinheiro que tem na sacola”. Com medo do que pudesse acontecer caso negassem a cumprir a ordem, os caixas sempre obedeciam. Após o roubo, Tom simplesmente caminhava tranquilamente em direção à saída, pegava sua bike e começava a pedalar.

Com medo que o dinheiro pudesse ser rastreado, Tom pegava para si apenas uma ou duas notas de 20 dólares e jogava todo o resto em lixeiras. Logo após o roubo que Tom cometeu no LaSalle Bank no ano 2000, a polícia encontrou todo o dinheiro (US$ 4 mil) em uma lixeira no parque Gillson, em Chicago.

Outras vezes o ciclista atuava como uma espécie de Robin Hood contemporâneo e deixava maços de notas em sacos de papel pardo nos bairros mais pobres das cidades por onde passou.

Tom Justice
Tom diz que se achava “especial” por doar o dinheiro dos roubos – Foto: Arquivo pessoal

Polícia de olho – Neste ínterim, a agência federal de investigação dos EUA (FBI) já começava a ligar os pontos entre uma série de assaltos a bancos não resolvidos e com uma série de características peculiares.

Uma delas era o relado de testemunhas de como o assaltante cruzava as mãos na frente do peito enquanto os caixas do banco enchiam bolsas com notas de dólar, o que fez com que a polícia passasse a chamar o suspeito de ‘Choirboy’ (termo equivalente a ‘coroinha’, em português).

Cocaína e crack

A adrenalina de sua vida dupla logo deixou de ser suficiente para Tom. Nessa época, foi foi apresentado à cocaína durante uma festa e passou a ser um consumidor voraz. Mesmo essa droga entretanto acabou sendo insuficiente e Tom se tornou viciado em crack, passando então a usar o dinheiro dos roubos para gastar com drogas.

“O motivo pelo qual eu havia começado a fazer isso foi para a sarjeta. Ali eu era apenas uma pessoa comum e horrível que estava roubando bancos para conseguir dinheiro para drogas. Totalmente egoísta”, disse Tom em entrevista à BBC.

Caindo na real

Após nada menos que 26 assaltos a bancos, a sorte de Tom finalmente começou a mudar. Enquanto pedalava por uma estrada, foi parado por um policial que pediu para olhar o interior de sua bolsa. Tom entrou em pânico e arrancou em fuga com sua bicicleta. O policial pediu reforços pelo rádio e teve início uma perseguição. Tom conseguiu evitar os bloqueios na estrada e notou um rio no fundo de uma encosta íngreme. Arremessou a bicicleta para um lado e foi para o outro, caindo na água e depois indo se esconder em um matagal denso.

Escondido na mata, Tom observava em pânico os helicópteros que passavam, enquanto ouvia sirenes da polícia e o tilintar das coleiras dos cães policiais farejando-o.

Tom permaneceu escondido por horas. Em meio ao pânico e ao barulho, teve tempo para refletir: “Acho que estava começando a entender que isso tudo era literalmente uma roubada, que a polícia viria atrás de mim”, lembra. “Foi a primeira vez que percebi que eu não estava bem. Mas não sabia como melhorar.”

Após seis horas de apreensão, os sons foram se tornando distantes. Tom saiu cautelosamente de seu esconderijo, atravessou novamente o rio e saiu, encharcado e desgrenhado, mas livre. Pelo menos até agora.

Bicicleta personalizada

Tom Justice
A bicicleta laranja de Tom levou a polícia até ele após 26 roubos – Foto: Arquivo pessoal

Utilizar um bicicleta de corrida personalizada e laranja brilhante como veículo de fuga não é exatamente ser discreto. Agora que a polícia estava com a descrição de sua bicicleta, Tom sabia que era apenas uma questão de tempo até que chegassem até ele. Meses depois, Tom retornava para casa quando viu um carro de polícia sem identificação pelo espelho retrovisor.

Ele deu de ombros e continuou pedalando. Então ele notou um segundo, e depois um terceiro, e percebeu que ele estava sendo seguido. Tom parou e deu de cara com diversos policiais com as armas apontadas para ele. Só após estar deitado de bruços no chão e algemado que a ficha começou a cair.

Ele confessou ser o autor dos roubos, mas o mais difícil, segundo ele, foi pegar o telefone para contar aos pais que os boatos eram verdadeiros: ele foi preso por assalto a banco.

“Foi horrível saber que seriam eles que teriam que encarar nossos vizinhos e amigos. Eu estava incrivelmente envergonhado. Sinto isso até hoje.”

Sentença de prisão

Tom foi condenado a 11 anos de prisão pelo roubo de 26 bancos em três estados dos Estados Unidos. A quantidade total de dinheiro roubado ao longo de quatro anos de crimes, de acordo com o FBI, foi de US$ 129.338 (ou mais de R$ 600 mil reais).

Ainda com a mentalidade de que a vida seria como um filme, Tom achou que a prisão federal na qual iria cumprir sua pena não seria tão ruim. “Isso vai ser ótimo, eu finalmente vou estar com a minha turma. Pessoas com a mesma mentalidade. Mas chegando lá, a realidade foi bem diferente.”

Tom logo descobriu que ele não era tão único quanto pensava — assim como ele, muitos ladrões de banco doam o que roubam. “Eu percebi que afinal eu não era tão especial assim”.

Foi só após sua prisão que o assaltante ciclista finalmente entendeu o efeito prejudicial de seu comportamento sobre os outros. Lendo as declarações das vítimas, descobriu que as pessoas ficaram muito traumatizadas pelos roubos que ele cometeu. Os caixas dos bancos temiam por suas vidas.

“Eu me senti muito envergonhado com isso, me senti culpado porque nunca havia parado para pensar do ponto de vista deles. Acho que comecei a roubar bancos para viver uma emoção. Era para ser divertido e acabou sendo terrível para outras pessoas”.

Após cumprir sua pena, Tom foi libertado em 2011, quando voltou com sua namorada Bari e começou a trabalhar como cuidador de idosos e doentes. Tom acredita que a prisão mudou sua vida.

“Eu cresci como pessoa na prisão. Então, apesar de tudo, funcionou. E sou grato por isso.”

Com informações da BBC

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